Editorial
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Abstract
Temos a satisfação de apresentar uma edição especial da RAC composta por seis artigos da área de Finanças. Assim, para dar maior agilidade e visibilidade a trabalhos do periódico, a RAC, além de disponibilizar artigos no formato ahead of print, também tem buscado publicar edições temáticas especiais. Por contemplarem estudos de uma mesma área do conhecimento, edições especiais podem gerar interesse de um público especÃfico, fomentando maior acesso aos artigos.
Esta edição apresenta trabalhos que exploram diversas perspectivas em finanças, como por exemplo, estrutura de capital, gestão de liquidez, precificação de ativos, eficiência de Mercado, finanças comportamentais, crédito bancário e gestão de crédito.
No primeiro artigo, Internationalization and Corporate Cash Holdings: Evidence from Brazil and Mexico, Newton Arata, Hsia Hua Sheng e Mayra Ivanoff Lora investigam "a relação entre o grau de internacionalização e o nÃvel de caixa das empresas". Os resultados "sugerem que o grau de internacionalização é um determinante de caixa e que o nÃvel de caixa aumenta de forma quadrática à medida que o grau de internacionalização da empresa aumenta".
O segundo artigo, Rebalanceamento da Estrutura de Capital: Endividamento Setorial e Folga Financeira, de Anderson Luis Saber Campos e Wilson Toshiro Nakamura, identifica que "o endividamento da empresa tende a acompanhar o endividamento setorial", porém apresentando um comportamento de reversão à média na qual "empresas mais distantes do endividamento mediano do seu setor convergem mais rapidamente".
No terceiro artigo, Relevância de Prêmio por Risco PaÃs no Custo de Capital das Empresas, Antonio Zoratto Sanvicente analisa, no contexto do CAPM, que "é redundante e incorreto acrescentar o prêmio por risco Brasil" quando é "usado o Ãndice de mercado local para a finalidade de estimação do custo de capital próprio de uma empresa". De acordo com o estudo, o uso inadequado de variáveis pode induzir "um erro de precificação correspondente a aproximadamente 17%".
O quarto artigo, Capital Bancário e Crédito no Brasil, de Valter Takuo Yoshida Junior e Rafael Felipe Schiozer, investiga "a associação entre capital bancário e concessão de crédito livre no mercado brasileiro". Mais especificamente, os "resultados indicam relação positiva entre o crescimento do crédito livre e o capital excedente, não tendo sido encontrada "relação significante entre o capital e o crescimento do crédito nos bancos públicos".
Já o quinto artigo, Como a Gestão de Práticas de Oferta de Crédito Impacta a de Estoque, de Claudinê Jordão Carvalho, estuda "o impacto da gestão das práticas de oferta de crédito sobre a de estoques em uma amostra de 432 micro e pequenas empresas". Os resultados sugerem que "a gestão das práticas de crédito determina a gestão de estoques, quando mediada pela gestão de caixa".
Finalmente, no sexto artigo, Efeito Calendário e Finanças Comportamentais no Segmento de Fundos Multimercados, Rodrigo Fernandes Malaquias e Samuel de Paiva Naves Mamede, a partir de fundamentos da teoria de finanças comportamentais, identificam que "o efeito segunda-feira também ocorre no segmento de fundos de investimento, sendo intensificado por perÃodos de crises financeiras".
Seguindo as diretrizes do manual de Boas Práticas da Produção CientÃfica, evidenciamos que as avaliações dos artigos de Wilson Toshiro Nakamura, membro do Conselho Editorial da RAC no momento da submissão, e de Antonio Zoratto Sanvicente, pesquisador convidado a submeter trabalho ao periódico, seguiram os padrões normais de avaliação, passando por processo de double blind review, assegurando isenção e independência.
Tendo em vista que a edição especial trata de artigos de finanças, é interessante discutir a declaração conjunta de editores dos principais periódicos internacionais de finanças acerca de citações chamadas de coercivas, motivada notadamente pelo artigo de Wilhite e Fong (2012) publicado na Science. Na declaração, os editores do Journal of Finance, Journal of Financial and Quantitative Analysis, Journal of Financial Economics, Review of Asset Pricing Studies, Review of Corporate Finance Studies e Review of Financial Studies estabelecem que mantêm e manterão uma polÃtica que evite a citação coerciva.
A autocitação coerciva refere-se a solicitações que não dão indicação clara de que o artigo carece de alguma caracterÃstica ou atributo, que não estabelecem sugestões especÃficas de autores, artigos a serem referenciados e que apenas orientam autores a incluÃrem referências a artigos do journal gerenciado pelo editor (Wilhite & Fong, 2012).
É importante destacar que a equipe editorial também não concorda com a polÃtica de citações coercivas e, portanto, não incentiva a referência indiscriminada a artigos do próprio periódico. Em linha com a declaração dos editores dos journals de finanças destacados anteriormente, há obviamente discricionariedade de se sugerir a citação de obras pertinentes ao estudo submetido, independentemente do periódico em que foram publicadas.
A questão da autocitação coerciva pode ser motivada pela intenção de aumentar o fator de impacto de um determinado periódico (Wilhite & Fong, 2012). Uma vez que a fórmula de cálculo do fator de impacto inclui, no numerador da métrica, a quantidade de citações a trabalhos do journal em um determinado perÃodo (Garfield, 1999, 2006), a autocitação pode inflar o indicador.
A despeito de ter sido criado originalmente para fundamentar decisões de seleção de periódicos para bibliotecas (Archambault & Larivière, 2009), o fator de impacto (Garfield, 1955, 1972) tem sido usado para tentar quantificar a qualidade da ciência ou da pesquisa produzida (Not-so-deep-impact, 2005), podendo ter forte influência na carreira de um pesquisador, como por exemplo, na obtenção de financiamento para pesquisa, na seleção para vagas como pesquisador e até mesmo nas promoções de trabalho (San Francisco Declaration on Research Assessment [DORA], 2013).
É interessante notar que embora estudos sobre relevância de periódicos, como os de Gross e Gross (1927), Allen (1929), Westbrook (1960), não levem em consideração autocitações, a ideia original do fator de impacto não faz restrição sobre a origem das referências a artigos de um dado journal (Garfield & Sher, 1963). Tendo em vista a possibilidade de aumento artificial do fator de impacto por meio de autocitação, a empresa que calcula e disponibiliza a métrica realiza estudos e conduz a retirada de journals que apresentem distorção relevante em seus indicadores, como pode ser observado em Thomson-Reuters (2014).
Diversos pontos de atenção podem ser levantados em relação ao fator de impacto, principalmente com relação à sua adequação como métrica de qualidade de artigos ou periódicos e à vulnerabilidade de sua fórmula de cálculo que pode gerar distorções em função de autocitação, por exemplo. Destaca-se que a comunidade cientÃfica também tem reagido à questão do fator de impacto, buscando trazer novas recomendações para a avaliação de resultados da pesquisa cientÃfica. Nesse contexto, o San Francisco Declaration on Research Assessment, iniciativa de editores e publishers, representa um passo importante em direção a mecanismos para se melhor avaliar a qualidade de artigos especÃficos e as contribuições individuais dos pesquisadores.
Como pode ser observado, a discussão sobre autocitação e fator de impacto é atual e relevante. Assim, sugere-se a autores e leitores um acompanhamento das tendências na área de avaliação de periódicos e de pesquisas cientÃficas. Novas métricas e indicadores estão surgindo e serão tema de futuro editorial.
Desejamos a todos uma ótima leitura dessa edição especial.
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